É uma boa pergunta...
Esta semana reuni-me com a minha responsável relativamente à minha avaliação deste ano laboral. Correu bem, felizmente temos visões semelhantes do meu trabalho, mas no final ela questionou se eu me sinto realizada neste trabalho.
Eu compreendo o porquê. Fiz licenciatura e mestrado em Psicologia e não estou a trabalhar na área, estou a trabalhar numa parafarmácia. Por incrível que pareça isso não me chateia. Parece, aliás, chatear mais os outros que a mim mesma. Quando me perguntam o que faço profissionalmente, várias pessoas reagem com pena e dizem para continuar a tentar encontrar trabalho em Psicologia. E quando respondo que estou bem onde estou e a fazer o que faço, ficam completamente desarmadas. É que não é uma obrigação trabalhar na área para a qual se estudou. Temos a liberdade de fazer outras coisas na vida.
Além disso, o ser humano é um ser eternamente insatisfeito. Muitas vezes passamos imenso tempo a desejar atingir determinado objectivo para quando de facto o atingimos, sentirmos que devíamos estar mais felizes por isso, sentimos que a ânsia de atingir o objectivo era melhor do que a sensação de o concretizar na realidade. E eu já passei por isso, quando estava a terminar o curso, o meu grande objectivo era poder trabalhar em Psicologia, sair de casa dos meus pais, tornar-me independente e encontrar alguém com quem construir uma vida em conjunto. Três anos depois, estava a fazer o estágio profissional em Psicologia e foi o pior emprego que já tive, por razões que já expliquei anteriormente, e que me atirou para um estado de burnout que só melhorou quando saí daquela empresa; estava a morar com o meu homem num apartamento mas que foi encontrado à pressa, ficava longe do trabalho e no meio do nada e tinha um sentimento de culpa gigante porque o meu homem se tinha oferecido para partilhar casa comigo porque eu não consegui encontrar um apartamento mais pequeno e mais barato que conseguisse pagar sozinha, e por isso ele passou a ter de fazer uma viagem de meia hora para o trabalho em vez da viagem de 10 minutos que costumava fazer. Portanto, aparentemente tinha tudo o que tinha desejado 3 anos antes e foi das alturas da minha vida em que me senti mais miserável.
A minha resposta à questão dela foi em parte evasiva mas verdadeira: sinto pela primeira vez em anos que o trabalho não é uma área da minha vida que me aflige. Não me preocupo com ele fora do horário laboral, não me telefonam a não ser algo extremamente urgente, estou efectiva e isso dá-me alguma segurança nestes tempos incertos e também na questão da compra de casa. E essa paz de espírito é importante para mim, mais do que poder dizer ao resto do mundo que estou a trabalhar na área para a qual estudei. Além disso, não desgosto do trabalho, é uma área que me agrada, só não gosto dos horários rotativos. Se me sinto realizada? Penso que não mas também penso que nunca me vou sentir completamente realizada, vai sempre haver algo em falta, algo a melhorar. Mas sinto-me bem, acho que até que me sinto feliz, e enquanto me sentir assim, está tudo bem.