Ontem chorei à frente de clientes. Primeiro, ia eu ontem a pensar que ia ser um dia mais calmo no trabalho, apesar de haver consultas à tarde, quando 5 minutos depois de entrar aparece o nosso (ir)responsável. Afinal devia ter fechado a correcção do inventário no dia anterior mas não conseguiu (basicamente ele fechou-se no consultório a ter reunião no Teams e a minha colega acabou por arrumar a mercadoria que tinha chegado ao invés de continuar a corrigir as diferenças do inventário).
Então foi tentar fechar o inventário mas queria que eu o ajudasse. Ainda massacrei a minha cabeça a tentar perceber os motivos dasmdiferenças de stocks, mas às 15h00 decidiu que ia fechar o inventário com as diferenças que estavam porque depois ia haver consultas e não podia estar no consultório. Agora eu pergunto, para que tive eu todo o trabalho, para no final fazer um inventário às três pancadas e continuar com stocks errados?
Depois disto ainda me disseram que pedi umas lentes em duplicado por lapso da minha parte, fiz uma devolução a um cliente da forma incorrecta e ainda tive uma cliente que veio à loja gritar comigo porque me esqueci de lhe ligar a dar o ponto de situação dos óculos da mãe dela, porque meteu-se o inventário pelo meio e nunca mais me lembrei do assunto. Depois dessa cliente ir embora, fui atender uma outra cliente e desfiz-me em lágrimas à frente dela. E não consegui parar de chorar durante pelo menos mais uma hora depois dessa situação, porque não conseguia controlar as lágrimas.
Agora, acho que tenho motivos mais que válidos para uma baixa psicológica.
Depois de meio ano nesta loja com uma colega que não faz nada e está ali só de corpo presente, uma colega que tenta ajudar mas distrai-se facilmente e deixa tudo a meio e um responsável que simplesmente não ajuda em nada e é na verdade um incompetente que me faz duvidar imenso da forma como ele conseguiu subir dentro da empresa, o copo transbordou.
Eu sei que sou pessoa de querer fazer tudo e não gosto de ver nada por fazer, mas como diz o moço, as outras pessoas apercebem-se disso e aproveitam-se da situação porque sabem que se não fizerem as coisas, eu vou fazer.
Mas este é um ponto que tenho tentado melhorar desde a situação de burnout que tive na altura em que fiz o meu estágio profissional. Eu faço o meu trabalho, ajudo no que é preciso, mas não me posso matar a trabalhar. Eu só quero entrar, e sobretudo sair, a horas do trabalho, enquanto lá estou dou o meu melhor, quero que paguem o que me é devido, me respeitem e não me chateiem muito a cabeça para eu poder aproveitar a vida fora dali no pouco tempo que me resta. Porque convenhamos, semanas de trabalho de 40 horas, às vezes mais, é um abuso, e não admira que os portugueses sejam dos povos menos produtivos na Europa. Ninguém aguenta dar 100% durante 8 horas por dia, 5 dias por semana.
Está uma pessoa a ir descansada para o trabalho (um trajecto que demora literalmente 5 minutos), trava porque uma carrinha se meteu à estrada e ainda leva uma batida na traseira porque a condutora que vinha atrás estava distraída. Com tudo isto, empatámos uma das vias, passados 5 minutos, outros dois condutores distraíram-se a olhar para o nosso acidente e bateram também exactamente ao nosso lado e então interrompemos a estrada principal da vila durante quase uma hora porque a GNR nunca mais chegava.
Entretanto, devo dizer que nunca pensei que a primeira vez que fizesse o teste do balão fosse por me terem batido às 7h35 da manhã enquanto ia para o trabalho, sempre pensei que fosse numa operação STOP a vir de uma festa.
No meio disto tudo, o acidente não foi grave, foi só a chatice da burocracia e depois toda a questão das seguradoras, da peritagem e do arranjo no mecânico. Mas fiquei com um pára-choques novo e um pequeno acidente em 14 anos de carta, que nem foi culpa minha, que dá uma história para contar devido a toda a situação rocambolesca.
A minha terra natal ardeu e ainda continua a arder.
Enquanto não houver reordenamento florestal e penas pesadas para os incendiários, isto vai continuar a acontecer.
O incêndio chegou mesmo perto de casa dos meus pais, felizmente não ardeu nada da casa e estão todos bem. Mas a primeira vez que fui à terrinha depois dos incêndios não consegui conter as lágrimas. Mais de uma semana depois ainda havia mini focos de incêndio, brasas e fumo a brotar do solo. Todos os anos acontece o mesmo e, infelizmente, como cresci num local com bastante floresta e pinhal, já se tornou um hábito. Recordo-me até que na semana antes dos incêndios, estava a conversar com os meus pais e falámos do quão estranho era este ano não terem existido grandes incêndios florestais. Falámos cedo demais. E infelizmente arderam muitos hectares de floresta, muitos animais morreram, casas e empresas ficaram destruídas e até vidas humanas se perderam.
Que para o ano, possamos chegar ao dia 31 de Dezembro sem que esta situação se repita.
Ontem falei com a minha mãe e ela contou-me que o meu pai foi durante esta semana a casa da minha avó e ela e a minha tia perguntaram para onde tinham ido os meus pais na segunda-feira, o dia em que vieram cá a casa para fazer o muro no quintal. Ora o meu pai deu logo com a língua nos dentes e contou a verdade, portanto se havia dúvidas que tínhamos comprado casa, acho que agora poucas há, se é que há algumas.
Entretanto a minha mãe também foi a casa do meu tio porque tinha prometido à minha prima que ia lá nas férias. Pois bem que a mulher do meu tio perguntou se eu morava mesmo num determinado sítio, isto porque eu dei só a informação geral que estava a morar num determinado concelho, não especifiquei o local. E a minha mãe foi-lhe dizer o exacto nome da localidade onde comprámos casa! Só falta dizerem também o nome da rua e o número da porta.
Isto para dizer que as pessoas devem ter vidas tão aborrecidas que deve ser esse o motivo pelo qual sentem a necessidade de meter o bedelho na vida dos outros.
Pode parecer que sou demasiado rígida por não querer dizer a toda a gente que eu e o moço comprámos casa mas a verdade é que toda a gente depois quer intrometer-se ou quer saber quanto pagámos pela casa ou como arranjámos dinheiro para isso, ou porque é que não comprámos casa em determinado sítio, ou para quê comprar casa em vez de arrendar. As pessoas opinam sem que lhes seja pedido, aliás eu e o moço passámos por isso na altura em que comprámos a casa e poucas pessoas sabiam desse processo. Mas toda a gente quer fazer valer a sua opinião quando na verdade, neste caso, apenas a minha opinião e a do moco importam. Chegou ao ponto de duvidarmos da decisão que estávamos a tomar, não por nós, mas por aquilo que os outros diziam. Então cada vez mais vou percebendo que quanto menos gente souber da minha vida, mais pacata e sossegada ela é.
Quando estou com as minhas colegas em loja, nem sempre consigo tratar das tarefas pendentes, ou querem estar na conversa e distraio-me ou então começamos a tratar de alguma tarefa e elas dão-me um tal nó no cérebro que prefiro tratar das coisas sozinha. Ontem estava a contar tratar de algumas questões pendentes depois da minha colega sair, mas não contava com duas questões: primeiro era sábado então tive bastantes clientes ao final do dia e segundo apareceu uma mãe com a filha com receitas externas e ambas compraram óculos (foi mais de uma hora nisto). E portanto saí do trabalho completamente K.O.
Isto foi escrito no final de Julho e com um mês de trabalho já eu conseguia ter uma ideia de onde me tinha metido. A verdade é, a situação não está para melhorar, pelo contrário. E não falo apenas do local onde trabalho, mas pelo que ouço de outras pessoas, é um sentimento geral. Há umas semanas isto culminou comigo a chorar em loja em frente aos clientes, foi algo que nem eu estava à espera mas juntou-se tudo: o responsável que não ajuda, as colegas que não fazem o trabalho e deixam tudo para mim, os horários da treta em que só fiz o fecho de loja durante uns 2 meses e os erros que comecei a fazer devido a todo o cansaço acumulado; e bastou uma cliente pouco empática, rude e mal educada que tudo saiu cá para fora. Resolução de ano novo: ir trabalhar, fazer só aquilo para que me pagam e deixar arder quando não estou em horário de expediente.
Já não dormi muito bem com a ansiedade de hoje começar a trabalhar noutra loja.
Às 8h30 a minha mãe liga-me e antes de atender já eu sabia que não era coisa boa: o meu avô faleceu. Não é que não estivéssemos à espera, era mais uma questão de quando ia acontecer (na verdade é assim para todos, nós é que achamos que não). Talvez tenha sido pelo melhor, porque ele só estava a sofrer e com a questão da demência era quase como se já não estivesse cá.
E agora vou ter de ir trabalhar na mesma porque é muito em cima da hora para avisar o responsável e ele encontrar substituição. Mas pelo menos amanhã e quarta estou de folga pelo que não é preciso fazer alterações de horário para eventualmente poder ir ao funeral.
E no entanto tive de pedir alterações das folgas porque o funeral atrasou e eu queria estar de folga nesse dia e ir ao funeral descansada sem estar a pensar que a seguir tinha de ir trabalhar. Já bastou ter de trabalhar no dia em que o meu avô faleceu. Algumas pessoas disseram que eu tinha direito a faltar e tinha 2 dias de nojo mas quem trabalha com horários e folgas rotativos sabe bem que nem sempre isso funciona. No meu caso, o meu avô faleceu numa Segunda e eu tinha direito a esse dia e ao dia seguinte. Por acaso Terça e Quarta já era suposto eu estar de folga mas o funeral foi na Quinta e apesar de ter direito a faltar no horário do funeral, quem raio está com disposição para ir trabalhar a seguir a isso? Então troquei uma das folgas para Quinta e assim fui mais descansada. Como é óbvio, numa situação destas nem devia estar a pensar no trabalho mas uma pessoa preocupa-se em não prejudicar ninguém. Mas depois, infelizmente, nem todos pensam assim.
Abriu vaga para a loja que fica a 5 minutos de casa! Uma colega de outra loja avisou-me e já me candidatei e fui com tudo: currículo e carta de motivação! Se me quiserem dizer que não, assim em princípio será mais difícil. Agora, não ia permitir que fosse como da outra vez: quis esperar para falar com a responsável antes de me candidatar e entretanto seleccionaram outra pessoa e fecharam o concurso interno. Desta vez fiz o oposto, primeiro candidatei-me e amanhã quando for trabalhar, logo falo com a responsável.
Fast forward, sim fui escolhida para a vaga! Se melhorou muito a minha situação laboral, nem por isso, a equipa é pior, o responsável então nem se fala, acabo por ter ainda mais trabalho numa loja com menos movimento do que aquela onde estava. No entanto, a nível pessoal melhorou alguma coisa, gasto menos combustível e o carro tem menos desgaste, pelo que sobra mais ao final do mês e conseguimos amortizar mais o empréstimo da casa este ano do que no ano passado; canso-me menos e perco menos tempo em viagens; e como a loja fecha mais cedo, consigo jantar sempre em casa com o moço e às vezes ainda temos tempo para ver um filme ou uma série depois do jantar. Por isso não posso dizer que foi uma mudança negativa.
Ontem tive uma cliente já de uma certa idade que nos entra pela loja dentro a dizer "Olhe aconteceu outra vez, não pode ser!". Só percebemos que era algo relacionado com os óculos dela porque trazia o estojo na mão, os clientes devem achar que nos lembramos de toda a gente que lá passa. Disse que estava cheia de pressa e deixava o óculo connosco mas eu precisava do contacto telefónico ou do número de contribuinte para aceder à ficha de cliente e também para depois ter o contacto para lhe poder ligar quanto estivesse tudo pronto. Então perguntei-lhe qual o número de telefone associado à ficha, ao que a senhora me responde muito precipitada "está aí!". Pois, mas eu preciso que me diga qual é para eu encontrar a ficha. "Mas ele já está aí!". Lá lhe expliquei que ia precisar mesmo das informações para poder aceder à ficha, então começou a confundir-se toda, os números que me dava eram inválidos até que decide ir ao carro para confirmar qual era o número porque tinha lá os documentos. Quando regressa à loja, diz-me só os últimos 5 dígitos do contacto e nem trazia os documentos com ela, fez só a proeza de decorar os últimos dígitos à pressa e eu que me desenrascasse. E felizmente desenrasquei porque ela já tinha repetido tanta vez os primeiros números que eu os decorei, mas podia ter corrido mal, não os ter decorado e tê-la obrigado a ir novamente ao carro buscar os documentos.
Enfim, pessoa que trabalha no atendimento ao público sofre muito.
Gostava de dizer que cada vez estas situações são menos comuns, mas na verdade acontece o contrário.
Estava a falar disto com o moço ontem à noite a caminho de casa e concluí que o meu top 3 difere consoante o objectivo. Se estivermos a falar de férias, de ser turistas à séria e de pontos para visitar, então o top 3 seria:
Barcelona: gostei muito e não sei se foi por ser a primeira viagem a sós com o moço ou se por não ter tido de planear tudo uma vez que o moço já lá tinha ido 2 vezes antes e já conhecia muita coisa.
Roma: em cada esquina há algo para ver, um dia inteiro quase não é suficiente para ver o Coliseu e toda a zona envolvente, são precisos vários dias para ver tudo e há vários pontos que são gratuitos.
Londres: digo sempre que foi a viagem que menos aproveitei porque fomos também com o irmão do moço e ficámos alojados em casa de um amigo do moço, o que significa que era muita gente a querer decidir muita coisa e acabei por vir embora com a sensação de que ficou muito para ver e fazer, daí que gostasse de lá voltar mas agora só com passaporte.
No entanto, como eu gosto de avaliar sempre as cidades pela sua atmosfera, cultura e modo de vida, tento responder à pergunta "conseguia ou gostava de morar aqui?" e então o top 3 seria diferente:
Barcelona: o primeiro lugar mantém, adorei a organização da cidade, o clima, as pessoas, a descontracção e o facto de haver um bocadinho de tudo, cidade, praia e montanha.
Londres: desenrasquei-me bem com o inglês, a compreender os transportes públicos, adorei os parques, porém o clima não é o mais agradável para quem está habituado a viver em Portugal.
Nice: foi a grande surpresa das viagens que fiz, não era suposto ir lá, estávamos a pensar em Paris mas o clima é óptimo, as vistas são lindas e a cidade também está bem organizada.
E agora deu-me vontade de planear à séria as próximas férias e a próxima viagem.
A minha tia, que estava a cuidar do meu avô que já está acamado e em estado demencial e sempre viveu com os meus avós, está no hospital porque teve uma hemorragia cerebral. Dentro de todo o azar, teve muita sorte porque esteve sempre consciente e chamou o meu tio e ele foi logo com ela para o hospital. Mas agora temos a questão de qual vai providenciar os cuidados ao meu avô e quem vai dormir lá a casa porque a minha avó não quer ficar sozinha durante a noite. Até agora tem ido lá uma vizinha fazer o favor, mas isso não é viável durante muito tempo. Portanto, está caótico por aqui.
Na verdade teve ainda mais sorte do que se pensou na altura, embora os médicos não quisessem dizer logo tudo, a minha tia teve um AVC. Todos se foram revezando e com a ajuda de alguns vizinhos, foram cuidando do meu avô até a minha tia ter alta. No entanto, ela ficou com algumas sequelas ainda está de baixa médica e a aguardar que lhe permitam reformar-se antecipadamente. Nem toda a gente tem uma segunda oportunidade como ela teve.
Já há bastante tempo que não escrevo por aqui, o tempo não é muito e quando escrevo é só para mim, para mais tarde ir recordando e acabo por não publicar aqui. Então tive a ideia de ir ler o que escrevi neste ano que está quase a terminar (parece que o tempo passa cada vez mais depressa, como é possível?) e publicar um dos textos mais significativos para mim de cada um dos meses.
Portanto, este aqui é de 14 de Janeiro:
Sinto-me culpada.
Isto porque um dos meus objectivos este ano era enveredar pelo caminho de UX Designer. Mas já vamos entrar na terceira semana e ainda não dei nenhum passo nesse sentido. Também é como diz uma colega minha, depois de dias intensos de trabalho, o que menos nos apetece é procurar emprego, ou neste caso, estudar para conseguir enveredar por outra área.
Neste momento, ao reler isto já não me sinto tão culpada. É um facto que com todas as rotinas diárias, o trabalho, as tarefas domésticas e o tentar arranjar tempo para o moço, a família e amigos, alguma coisa fica para trás. No entanto, fiquei a saber há uns dias que uma colega que trabalha noutra loja, com a qual trabalhei há uns anos atrás e que está na empresa há mais de 15 anos, despediu-se. Ela é mais velha que eu e há algum tempo fez um curso universitário para mudar de área e conseguir evoluir dentro da empresa. Terminou o curso e nunca lhe deram essa oportunidade, então ela ganhou coragem e foi embora.
O que isto me diz é que nunca é tarde para mudar e cada um faz isso ao seu ritmo, portanto não me vale de nada ter sentimento de culpa por continuar a trabalhar no mesmo local, quando tiver que ser e sentir que é o momento certo, mudo. Se quiser, se não quiser também não me tenho de martirizar por isso. É só um trabalho para conseguir pagar as contas, não é a minha vida.