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Brainstorming 2.0

Um blog que é basicamente um consultório de um psicólogo onde se fala de tudo sem restrições ou medos.

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Um blog que é basicamente um consultório de um psicólogo onde se fala de tudo sem restrições ou medos.

O flagelo dos jantares de Natal das empresas

 

   Relativamente a este assunto, creio que a minha opinião é controversa. Eu não gosto de ir aos jantares de Natal da empresa, primeiro porque estes são fora do horário laboral e tenho de abdicar do pouco tempo pessoal que me sobra fora do trabalho para ir a um jantar de trabalho, e segundo porque acho que há muita gente que vai contrariada e só porque "fica bem". Ora, eu não quero saber de aparências, se me apetece vou, senão não compareço. E já houve vários jantares aos quais fui e outros aos quais disse que não ia.

   Este ano, a minha responsável comunicou com menos de uma semana de antecedência que o jantar vai ser amanhã, depois das 22 horas (isto porque como há colegas que trabalham até às 22 horas, temos de esperar por todos para jantar). O jantar vai ser com empregados das várias lojas que ela gere e com os quais quase não tenho contacto, excepto quando tenho de ir fazer horário nessas lojas porque há algum colega a faltar.

    A questão é que eu tenho uma consulta marcada para sexta-feira às 9 horas e é no centro de saúde da vila de onde sou natural (isto porque decidi não mudar de centro de saúde porque senão ia demorar imenso até me atribuírem um médico de família, então prefiro fazer a viagem e ir lá). Então disse que não ia ao jantar porque se fosse ou ia ter de fazer uma viagem de carro de 45 minutos de noite e com o tempo que tem estado não é agradável ou ia ter de acordar de madrugada, fazer a viagem para ir à consulta e voltar o mais rápido possível porque tenho de entrar ao trabalho na sexta às 13 horas. 

    Até já tinha combinado com a minha mãe (que também tem folgas rotativas no trabalho) que amanhã como ela estava de folga e eu também e não temos mais folgas em comum no próximo mês, que íamos fazer as compras de Natal e depois eu seguia também para casa dos meus pais, dormia lá para conseguir descansar melhor, na sexta de manhã ia à consulta e depois voltava para casa para organizar as minhas coisas e ir trabalhar. 

   Isto não quer dizer que não goste de conviver com as minhas colegas, até já tinha dito que se decidissem fazer um jantar só com as colegas com quem trabalho na minha loja, eu ia ao jantar. 

    Pois bem que a minha responsável quando soube que eu não ia ao jantar, ontem ligou para o meu local de trabalho e como eu estava de folga, pediu às minhas colegas para me ligarem (por causa daquela lei que os empregadores não podem contactar os empregados fora do horário laboral, mandam os outros empregados fazer o trabalho sujo). As minhas colegas já sabiam do motivo para eu não ir ao jantar e eu pedi-lhes para dizerem à responsável que eu tinha uma consulta médica na sexta e não era no local onde moro e não iria estar cá na quinta à noite. Minutos depois as minhas colegas voltam a ligar-me a dizer que a responsável estava a ser muito insistente e para eu fazer um esforço e ir ao jantar para depois não sofrer represálias da parte da responsável e que elas também só iam por essa razão porque a maioria delas também não queria ir ao jantar. 

   Eu lá acabei por aceitar. Se antes não ia ao jantar, não por não querer mas porque tinha incompatibilidade com outros compromissos, agora vou ao jantar completamente contrariada. Aliás, eu já trabalhei nesta empresa há uns anos atrás e houve um ano em que não fui ao jantar de Natal e a minha responsável (que na altura era outra) aceitou a minha decisão e nem questionou. Mas esta responsável é conhecida por ignorar completamente a vida pessoal dos empregados e por não ter vida pessoal, ou eu presumo que ela não tenha vida pessoal porque mesmo de folga e até de férias, envia emails constantemente e às vezes até liga para o local de trabalho. Ela não quer saber se as pessoas vão ao jantar com vontade, só quer ter lá o maior número de pessoas para poder tirar uma foto bonita e mostrar aos outros responsável e dizer que o jantar de Natal dela foi o melhor de todos. Por mim, ela pode ter um God Complex à vontade, agora não tenho de ser eu a alimentá-lo. Depois disto apetece-me não ir a mais nenhum evento da empresa em horário não laboral. Como se não bastasse todas as horas da minha semana que passo no emprego, também sou obrigada a abdicar do tempo reservado à minha vida pessoal para satisfazer os caprichos da responsável.

Imagem retirada do site https://www.delish.com/uk/cocktails-drinks/a29858403/office-christmas-party-rules

É uma boa pergunta...

   Esta semana reuni-me com a minha responsável relativamente à minha avaliação deste ano laboral. Correu bem, felizmente temos visões semelhantes do meu trabalho, mas no final ela questionou se eu me sinto realizada neste trabalho. 

   Eu compreendo o porquê. Fiz licenciatura e mestrado em Psicologia e não estou a trabalhar na área, estou a trabalhar numa parafarmácia. Por incrível que pareça isso não me chateia. Parece, aliás, chatear mais os outros que a mim mesma. Quando me perguntam o que faço profissionalmente, várias pessoas reagem com pena e dizem para continuar a tentar encontrar trabalho em Psicologia. E quando respondo que estou bem onde estou e a fazer o que faço, ficam completamente desarmadas. É que não é uma obrigação trabalhar na área para a qual se estudou. Temos a liberdade de fazer outras coisas na vida.

   Além disso, o ser humano é um ser eternamente insatisfeito. Muitas vezes passamos imenso tempo a desejar atingir determinado objectivo para quando de facto o atingimos, sentirmos que devíamos estar mais felizes por isso, sentimos que a ânsia de atingir o objectivo era melhor do que a sensação de o concretizar na realidade. E eu já passei por isso, quando estava a terminar o curso, o meu grande objectivo era poder trabalhar em Psicologia, sair de casa dos meus pais, tornar-me independente e encontrar alguém com quem construir uma vida em conjunto. Três anos depois, estava a fazer o estágio profissional em Psicologia e foi o pior emprego que já tive, por razões que já expliquei anteriormente, e que me atirou para um estado de burnout que só melhorou quando saí daquela empresa; estava a morar com o meu homem num apartamento mas que foi encontrado à pressa, ficava longe do trabalho e no meio do nada e tinha um sentimento de culpa gigante porque o meu homem se tinha oferecido para partilhar casa comigo porque eu não consegui encontrar um apartamento mais pequeno e mais barato que conseguisse pagar sozinha, e por isso ele passou a ter de fazer uma viagem de meia hora para o trabalho em vez da viagem de 10 minutos que costumava fazer. Portanto, aparentemente tinha tudo o que tinha desejado 3 anos antes e foi das alturas da minha vida em que me senti mais miserável.

   A minha resposta à questão dela foi em parte evasiva mas verdadeira: sinto pela primeira vez em anos que o trabalho não é uma área da minha vida que me aflige. Não me preocupo com ele fora do horário laboral, não me telefonam a não ser algo extremamente urgente, estou efectiva e isso dá-me alguma segurança nestes tempos incertos e também na questão da compra de casa. E essa paz de espírito é importante para mim, mais do que poder dizer ao resto do mundo que estou a trabalhar na área para a qual estudei. Além disso, não desgosto do trabalho, é uma área que me agrada, só não gosto dos horários rotativos. Se me sinto realizada? Penso que não mas também penso que nunca me vou sentir completamente realizada, vai sempre haver algo em falta, algo a melhorar. Mas sinto-me bem, acho que até que me sinto feliz, e enquanto me sentir assim, está tudo bem.

Tenho de começar a meditar para me controlar

    Na noite de 31 de Outubro, os vizinhos (a.k.a. a filha do senhorio, o genro e o neto) voltaram para o apartamento. Estiveram fora o fim de semana (às vezes vão passar o fim de semana fora) e na segunda-feira à noite, para mal dos meus pecados, voltaram. 

   Ora, nós moramos num prédio onde há muitos estudantes universitários e era noite de Halloween, ou seja, era sinónimo de festa da grossa. 

   Era meia noite e meia, e eu e o moço estávamos na cama a tentar dormir mas com dificuldades em adormecer porque o filho da vizinha estava a chorar. Mas felizmente passado um bocado, lá conseguimos adormecer. 

   Na manhã seguinte, o moço mostra-me uma mensagem que a vizinha tinha enviado à uma da manhã a perguntar que se éramos nós que estávamos a fazer barulho e para diminuirmos o volume porque não estava a conseguir adormecer o filho. 

   É só para dizer querida vizinha, que nós fomos educados de outra forma e não andamos constantemente aos gritos como acontece no seu apartamento. Aliás, eu trabalho com horários rotativos e trabalhei no feriado pelo que estava a tentar dormir mas guess what, não conseguia porque o seu filho estava a chorar. Mas compreendo o facto de uma criança de um ano chorar, é normal. O que não compreendo é o facto de achar que num prédio com imensos estudantes universitários e na noite de Halloween, éramos nós, um casal de trintões, que estavam a fazer barulho. Eu diria que se pensasse um bocadinho, ia chegar à conclusão que a probabilidade maior seria de serem alguns estudantes a fazer uma festa. Aliás, sabendo a vizinha que o nosso apartamento é minúsculo e mal tem condições para um casal, nem sei como acha que alguma vez poderíamos fazer uma festa neste apartamento. Pelo menos, nós consideramos que não há condições para isso e nunca tentámos organizar um convívio social neste espaço.

   Vou só ali meditar para ver se me controlo.