O direito à habitação deveria ser considerado uma necessidade básica, todos nós precisamos de um local de abrigo com o mínimo de condições a que possamos chamar casa e onde estamos seguros.
Mas olhando hoje para os preços de venda/aluguer das casas, apartamentos ou até simplesmente terrenos para construção, vemos que são vendidos a preços de luxo comparativamente ao rendimento médio de um português.
Para mim isto é contraditório. E faz-me pensar que a este ritmo, e correndo tudo bem, devo ter casa própria por volta do meu 50º aniversário.
A minha coelhinha faleceu há uns dias. Ela que era tão destemida, tão independente e um osso duro de roer, capaz de impor respeito até a gatos com o dobro do tamanho dela, só mesmo um cancro para a conseguir derrubar. Um cancro que já se tinha espalhado e portanto já nada havia a fazer. Só mesmo nos últimos dias é que notámos algo de diferente nela, de resto continuava a mesma de sempre. A visita ao veterinário deu-nos a notícia que mais receávamos.
Ela estava comigo há mais de 4 anos. Em Janeiro de 2017 decidi que estava na altura de ter outro coelho, o meu coelho anterior tinha falecido há mais de um ano, estava numa fase menos boa da minha vida e achei que ter um animal para cuidar, acarinhar e a quem dar uma família era a melhor forma de me distrair e canalizar a minha energia para algo positivo. Quando fui à loja de animais, só restava esta coelhinha, a funcionária disse que no Natal todos os outros tinham sido levados, eram branquinhos e peludinhos, que é o que as pessoas mais procuram. No entanto, ela era cinza e branca, de pêlo curto, fazia lembrar uma lebre. Até a minha mãe perguntou se eu não queria esperar para poder ter mais opções de escolha. Foi aí que percebi que tinha de a levar comigo e assim foi. Nunca me arrependi.
Durante anos foi uma fiel companheira, uma fonte de alegria, às vezes de trabalho mas era sobretudo uma das melhores coisas da minha vida e ver-me assim de repente sem ela, custa imenso. Desde a ida ao veterinário que sabia que ela não tinha muito tempo pela frente e estava consciente da possibilidade de ter de recorrer à eutanásia caso a situação dela piorasse mais. Durante 24 horas a minha cabeça não parou enquanto pensava na possibilidade de ter de tomar a decisão de pôr um término ao sofrimento dela. No entanto, mesmo no fim, ela decidiu tirar-me esse peso de cima, faleceu durante essa noite, provavelmente da melhor forma possível, em casa, no cantinho dela e em paz.
Desde então não há um dia em que não haja pelo menos um momento em que eu me desmanche num pranto. Estava tão habituada à presença dela que agora a mínima coisa me relembra que ela já não está entre nós. O facto de assim que acordava ter de a alimentar antes de fazer o que quer que fosse porque ela não descansava enquanto não lhe dava comida, soltá-la durante a hora das refeições e ela vir para junto de nós pedir para lhe fazermos festinhas com os pés, o ela adorar amendoins, banana e couve e ter de lhe dar sempre um bocadinho, o despedir-me sempre dela quando saía para o trabalho. Até o facto do canto da casa onde estava a gaiola dela estar agora vazio me faz vir as lágrimas aos olhos.
No fundo, sei que foi o melhor tendo em conta a situação. Entre estar ela a sofrer ou sofrer eu por ela já não estar entre nós, prefiro sempre a segunda opção. Consola-me saber que lhe dei o melhor que pude durante o tempo em que estivemos juntas. Ela partiu e levou um pedacinho de mim mas eu fiquei com as memórias e enquanto as tiver, parte dela estará sempre aqui. Espero que onde quer que ela esteja, esteja bem, feliz e rodeada dos amendoins que ela adora.
O meu carro tem de ir à inspecção este mês. Na terça-feira, depois de sair do trabalho, combinei com o meu homem darmos uma olhada rápida no carro para me certificar de que estava tudo bem. Uma das luzes traseiras não funcionava, ele trocou a lâmpada e ficou tudo pronto para no dia seguinte ir à inspecção, que já tinha marcado com antecedência.
No dia D, entrámos no carro, liguei-o e ele decidiu que era boa altura para dar um erro no painel e acender a luz do motor. Juro que se o meu homem não tivesse estado comigo nas duas situações e eu contasse isto a alguém, iam achar que era doida e dizer que provavelmente já estava assim e eu não tinha reparado, só que não, na véspera estava tudo bem, no dia da inspecção deixou de estar.
Portanto tive de desmarcar a inspecção e agora tenho de levar o carro ao mecânico antes de lhe fazer a inspecção. Uns podem dizer que é coincidência, mas o timing foi tão mau que o meu homem diz que é capaz de ser bruxedo. E eu não acredito nelas, mas costuma-se dizer que elas existem...