Na minha opinião (que é apenas a minha opinião, não soltem já as feras), vejo uma certa semelhança entre as danças coreografadas que se agora disseminam através do Tik Tok a toda a hora e aquelas coreografias dos anos 80, 90 e 2000 que toda a gente, independentemente da faixa etária, conhecia de cor e fazia um esforço para decorar, do género da Macarena, o Asereje e até o Gagnam Style. Com a diferença de que agora há tantas coreografias dessas (ao ponto de haver uma para quase todas as músicas) que o impacto que cada uma tem é menor e presumo que nos casórios que se vão realizar daqui a 10 anos (caso o Covid-19 já tenha acalmado) ninguém vai dançar a Savage Love como se dança a Macarena hoje.
Por vezes sinto alguma saudade de trabalhar na minha área de formação, a Psicologia. Mas depois de reler coisas que escrevi durante o estágio profissional, as saudades logo desaparecem. Senão vejamos o seguinte excerto escrito há sensivelmente um ano atrás:
Que faço eu no estágio?
Ora bem, dando o exemplo do que estou a fazer agora, ando há uns dias a corrigir erros ortográficos, gramaticais e científicos na tese de doutoramento da minha orientadora. São umas meras 300 páginas. E hoje de manhã o chefe ligou, porque não veio ao escritório, a pedir para lhe dizer pelo telefone os erros que já tinha encontrado. Foi uma "alegre" hora e meia que passei ao telefone, até ficar com dores nos ouvidos e nos braços, a indicar palavras, páginas, parágrafos e outros que tais para ele fazer as alterações no documento word porque eu não estou autorizada a fazer alterações no ficheiro.
Apesar de já ter arranjado emprego (embora seja apenas temporário por ser uma substituição de licença de maternidade) e de ter tido uma má experiência na área da Psicologia, por vezes dou por mim a ver ofertas de emprego em Psicologia.
No mês passado vi um anúncio para uma bolsa universitária para mestre em Psicologia e como cumpria os critérios de selecção decidi tentar a minha sorte. Há umas 2 semanas recebi um email a dizer que tinha passado à fase seguinte, ou seja que não tinha sido excluída, mas não contei a ninguém. Hoje recebi um email com a lista final das colocações: fiquei em último lugar.
É difícil não levar isto a peito. É complicado ter esperança de que um dia vou conseguir evoluir na minha vida profissional. É quase impossível não criar expectativas, por muito que tente, que depois são desfeitas em meros segundos.
Por isso não contei a ninguém. A desilusão de eu saber já é suficitente, dispenso ter de reviver isto uma e outra vez quando contasse a outras pessoas. Até porque quem me é mais próximo incentiva-me a não desistir e a continuar à procura de algo na minha área de formação, mas a dor das rejeições é tão grande que por vezes prefiro nem tentar. Se faz sentido? Talvez não, nem me considero pessoa de desistir facilmente. Mas há momentos em que para proteger a auto-estima e a auto-confiança que me restam, não tentar é o melhor a fazer.
Todos os anos, sempre a mesma coisa. Nos últimos anos, não me lembro de um ano em que na localidade de onde sou natural não seja posto fogo. Perdem-se bens, vidas animais e por vezes até vidas humanas. Por algo que podia ser prevenido. E não estou a falar apenas da limpeza dos terrenos e da proibição das queimadas.
Sabem o que funciona bem? Punição. Uma punição bem pesada e quem tem a infeliz ideia de atear fogos depois passava a pensar duas vezes antes de o fazer.
Já chega de encolher os ombros e dizer que acontece todos os anos o mesmo. Se acontece, tem de deixar de acontecer.
Este ano tem um sabor agridoce. No ano passado estava a realizar estágio profissional na área e achei por bem partilhar a moldura na foto de perfil do Facebook em que dizia que temos orgulho em ser Psicólogo. E não é mentira, tenho orgulho em ter seguido Psicologia e em o ter feito com a intenção de ajudar os outros. No entanto, sinto que não sou psicóloga, simplesmente porque não estou a exercer essa profissão e provavelmente porque não o voltarei a fazer. Já referi anteriormente o tormento que foi encontrar um estágio profissional e sobretudo o inferno que passei nessa empresa. E isso fez-me perceber que há coisas mais importantes que simplesmente o cargo que está descrito no nosso contrato de trabalho, como por exemplo, o respeito que a empresa tem por nós, o cumprimento das leis de trabalho, a segurança do posto de trabalho e também o salário. Coisas que sinto que têm vindo a ganhar mais peso com a idade. Além disso, já comentei com outros colegas psicólogos, a Ordem dos Psicólogos pouco faz para nos ajudar. O primeiro contacto que temos com ela é para nos pedirem dinheiro e isto repete-se ao longo do estágio profissional e dos anos de trabalho através das quotas. Estágio esse para o qual a Ordem não oferece grandes soluções, somos nós que temos de o encontrar e tratar de tudo, caso as coisas corram mal também não temos grandes opções, é aguentar ou desistir do estágio e voltar à estaca zero. Isto pode ser apenas uma fase minha, de alguém que se desiludiu muito com a área que mais adorava. De qualquer modo, parabéns a todos os psicólogos por toda a coragem e por todo o tormento que sofreram e ainda sofrem.