A sério. Gostava mesmo de saber se é só a mim que isto acontece ou se também acontece com vocês.
Fala-se muito do facto dos candidatos a ofertas de emprego "desaparecerem" durante o processo de recrutamento e selecção ou de se "esfumarem" logo nos primeiros dias de trabalho sem dar qualquer justificação. Mas e o fenómeno do ghosting por parte dos recrutadores?
Comigo já não é a primeira vez que acontece. A última vez foi mesmo antes de arranjar este novo emprego. Ora então, estava eu a trabalhar no lar de idosos e costumava ter o telemóvel comigo porque continuava a enviar candidaturas para ofertas de emprego e queria estar o mais disponível possível. Numa segunda-feira de manhã ligam-me, não atendi logo porque estava a trabalhar mas retornei a chamada uns 15 minutos depois. A recrutadora de uma daquelas empresas de trabalho temporário e recursos humanos, bem conhecida por sinal, faz-me algumas questões e marcámos uma hora para fazer entrevista por vídeochamada, no dia seguinte ao final da tarde para ser fora do meu horário de trabalho.
Na terça-feira, o dia da entrevista, faltava meia hora para eu sair do trabalho quando recebo uma mensagem da recrutadora a pedir para alterar a entrevista para o dia seguinte, quarta-feira. Respondi à mensagem a dizer que não havia problema e se lhe fosse mais conveniente poderia ser de manhã porque nesse dia ia estar de folga. Não me respondeu mas como já passava das 17 horas imaginei que já não estivesse em horário de trabalho. Entretanto, ligaram-me de um outro local não relacionado para marcar uma entrevista presencial, também para quarta-feira. Apesar de ser muito apertado em termos de tempo, aceitei porque não ia desperdiçar uma oportunidade.
Na quarta-feira fui então à entrevista presencial para a outra oferta de emprego e vir a correr para casa para poder fazer a entrevista por vídeochamada com a recrutadora. Enviei mensagem a dizer que estava pronta para realizar a entrevista, estive mais de meia hora online entre o Skype e o Whatsapp à espera de ser contactada e nada. Nem uma chamada, nem uma mensagem, *puff* a recrutadora desapareceu.
O curioso disto é que a entrevista presencial a que fui nesse dia deu frutos e fui seleccionada! Agora imagine-se que eu tinha recusado essa entrevista por já ter a entrevista por vídeochamada marcada para esse dia: tinha ficado a ver navios.
Sendo eu da área da Psicologia e sendo que quero enveredar pela área de Recursos Humanos e principalmente Gestão de Empresas, devo dizer que não entendo o ghosting por parte dos recrutadores (também não o entendo quando é por parte dos candidatos). Compreendo que este é um período difícil para o pessoal que trabalha em Recursos Humanos, muito trabalho, muitos candidatos, procedimentos que têm de mudar e adaptar-se rapidamente. Mas caramba, não custa enviar uma mensagem a dizer que já não estão interessados em fazer a entrevista, que já encontraram outra pessoa para a vaga, que simplesmente pensaram melhor e não tenho o que é necessário para aquela vaga. Eu como candidata perdi tempo a fazer a candidatura, a tentar organizar a minha vida para poder fazer a vídeochamada e perdi meia hora à espera da tal vídeochamada. Não era difícil a recrutadora perder 2 minutos a enviar uma mensagem a justificar o porquê de ter desaparecido. Até porque estas coisas dão muito má imagem às consultoras de recursos humanos, da minha parte não quero ter mais nada a ver com aquela empresa.
A minha aventura como auxiliar num lar de idosos terminou, pelo menos por agora. Depois de ter falado com a directora técnica e ter sido sincera com o facto de não ter a robustez física necessária para o trabalho, surgiu outra oportunidade, aparentemente, melhor. Então entreguei a carta de despedimento e começo um novo emprego na próxima semana. Ofereci-me para continuar a trabalhar até ao final do mês no lar mas como não ficaram muito contentes com o facto de me ir embora e não queriam continuar a pagar-me e queriam arranjar logo outra pessoa para me substituir, rejeitaram a minha oferta.
Não gosto de sair dos empregos e deixar inimigos mas a verdade é que depois de pedir à directora técnica para ela falar com a direcção do lar e rescindirem contrato comigo no período experimental, para depois eu continuar a ter acesso ao fundo de desemprego, ela evitou falar comigo e percebi que provavelmente não me iam facilitar a vida. Quando surgiu outra oportunidade, decidi aceitá-la porque sabia eu lá quanto mais tempo ia aguentar a trabalhar lá sem ficar com lesões musculares ou sem deixar cair um utente por me faltarem as forças.
Nunca fui desonesta. Quando me perguntaram se eu achava que ia aguentar fazer o turno da noite disse que não sabia, que tinha trabalhado com horários rotativos mas só entre as 8h da manhã e a meia-noite, não podia adivinhar que não consigo dormir durante o dia e que quando fazia noites às vezes dormia só 5 horas e nem sequer eram seguidas. Ou quando me perguntaram se eu me achava capaz de fazer o trabalho, disse que não tinha problemas em fazer a higiene dos idosos ou lavar louça ou fazer limpezas, mas nunca me foi dito que teria de levantar utentes com mais de 1,80m e mais do dobro do meu peso completamente sozinha.
Não sou pessoa de desistir, não sou mesmo. Mas até eu tive de reconhecer que aquele trabalho seria apenas uma coisa temporária para mim, pelo menos naquelas condições. Porque caso contrário, ia acabar por prejudicar a minha saúde. No entanto, as pessoas que lá trabalham deviam ser mais valorizadas pela sociedade, são pessoas que fazem um trabalho extremamente pesado, tanto a nível emocional como físico e têm condições mínimas. Há que mudar mentalidades.
Ah, o bom que é dar conselhos aos outros! Por isso muita gente diz que seria bom psicólogo, porque é bom a dar conselhos, só que um bom psicólogo não faz isso, mas mais sobre esse tema para outra altura.
O que me traz aqui é um desabafo sobre outro assunto. Várias colegas de trabalho do lar de idosos onde comecei a trabalhar vieram ter comigo e disseram-me que o melhor lá é entrar muda e sair calada.
O que é no mínimo curioso, porque isso é tudo aquilo que elas não fazem. Passam a vida a falar nas costas umas das outras e ainda me tentam meter no meio da confusão. Mas se de facto elas seguissem o próprio conselho que me deram, as coisas corriam melhor.
Resumindo, dar conselhos é fácil, dar-lhes uso é bem mais complicado.
A pobre da colega que estava comigo (e que tem por volta de 60 anos) ontem entrou 1 hora e meia mais cedo para adiantar o trabalho de hoje porque sabia que era a minha primeira noite e não íamos conseguir fazer tudo. E mesmo assim ela teve de fazer quase tudo porque o turno da noite é sobretudo levantar os idosos e fazer-lhes a higiene e os meus 42kg e 1,52cm não permitem que eu consiga tratar deles sozinha.
Entre as 2h30 e as 4h tentámos dormir mas a minha colega ressonava tanto que não consegui sequer descansar. Curioso é que quando o despertador tocou ela disse que não tinha dormido nada (então eu nem se fala...).
Mesmo sem conseguir fazer o esforço necessário, já consegui magoar o ombro direito, que me dói horrores quando tento fazer força com o braço direito.
E pronto, foi muito bonito mas vou ter que abandonar (mas só depois de descobrir se continuo a ter direito ao subsídio de desemprego). Por uma questão de saúde, porque me é fisicamente impossível fazer todas as tarefas, e por uma questão de consciência, porque as minhas colegas não têm de compensar aquilo que eu não consigo fazer.
Finalmente encontrei um emprego, mas não na minha área, como auxiliar de acção directa num lar de idosos. Que o trabalho era duro e o salário era mínimo, já eu sabia. Mas afinal os horários também são péssimos e a equipa de trabalho é um conjunto de mulheres entre os 20 e os 60 anos que parece que estagnaram na fase da adolescência e preferem "cortar na casaca" umas das outras em vez de fazer o seu trabalho. É como costumo dizer: procuram fazer menos que os outros mas ganhar mais que eles. E eu que só quero fazer o meu trabalho sem me envolver em intrigas, vejo-me metida ali no meio sem querer.
Cheguei a esta conclusão depois de apenas UM dia de trabalho, nem quero imaginar qual será a minha opinião daqui a um mês.
Para manter a sanidade mental é pensar que é temporário, é só mais um esforço até encontrar outra coisa.
Ou então isto é mesmo a norma e eu é que estava alheia à realidade.
Há uns dias um recrutador liga-me, após me candidatar a uma oferta de emprego para vendedor de loja, e questiona se me pode fazer umas perguntas, ao qual eu respondo "claro que sim". A partir daí a coisa descambou:
Perguntou se eu morava mesmo na cidade onde se situava a loja. Respondi que não, moro a 30 minutos de lá mas estou à procura de apartamento lá na zona (porque é onde o meu homem trabalha) e tenho carta de condução e viatura própria e já estou habituada a fazer um caminho entre 20 a 30 minutos para o emprego. Então disse que era uma pena, porque se eu morasse mesmo lá me convidava para ir a uma entrevista presencial às 11 horas da manhã. O senão? Eram 10 horas! Juro que não compreendo esta ideia dos recrutadores ligarem aos candidatos a pedir para se apresentarem em entrevistas uma ou duas horas depois.
Perguntou a minha idade. Tudo bem mas no meu currículo tem a minha data de nascimento. Não sejam preguiçosos e façam as contas.
Perguntou se era casada. Não, não sou mas caso fosse, afectava de algum modo a minha competência para trabalhar?
Perguntou se tinha filhos. Novamente a minha dúvida é se um pai/mãe não consegue realizar as tarefas por alguma razão que desconheço.
Perguntou se era fumadora. Epá, agradeço imenso a preocupação com a minha saúde mas é um bocadinho estranho fazer perguntas tão invasivas cinco minutos depois de estarmos a falar pela primeira vez!
Perguntou se tinha disponibilidade para ter formação durante um mês num local que fica a 1 hora de viagem do local onde se situa a loja. Bem, ter até tenho, porque estou desempregada. Agora a minha questão é porque é que estas informações não são incluídas na publicação da oferta de emprego. É que eu podia não ter disponibilidade e então estava só a perder o meu tempo e a fazer o recrutador perder o tempo dele ao candidatar-me.
Depois de toda esta situação estranha, que durou nem dez minutos, disse que me voltava a ligar para informar se tinha sido seleccionada para ir a uma entrevista na semana seguinte. Já devem imaginar o que se passou a seguir: não me disse mais nada até hoje. Acho que o fenómeno do ghosting chegou à área de recrutamento e selecção. Imagino que os recrutadores tenham bastante trabalho mas não lhes ficava mal terem mais respeito pelos candidatos e dar-lhes feedback. Se bem que o silêncio também é uma forma de resposta e já percebi que esta foi mais uma candidatura que não deu em nada.